segunda-feira, outubro 15

Muro caiado


És como uma parede. Atiro tudo o que sou, tudo o que tenho e nada parece mexer nesse muro caiado que és. Uma parede gigante, enorme e branca, parada no tempo, imobilizada à minha frente. A brancura queima os olhos quando o sol em ti se reflecte, as ervas paradas vão crescendo em teu redor. Mas na placidez do meio-dia nada mexe, o ar cortado passa pelos teus ombros, arestas frias que anunciam o fim da tua figura. Não te sinto, não te toco; de ti nem um cheiro me chega, o teu silêncio tapa-me a boca e permaneço assim, à tua frente, à tua espera. Já te atingi com tudo o que tinha, mil palavras inférteis já treparam pelo verde que tens colado ao corpo. E nenhum fruto nasceu, o calcário do teu muro matou tudo.

Assim cá estou, sentada diante de ti, as mãos mais vazias do que os olhos. Esses estão sempre atentos. Qualquer movimento, uma sombra fugaz, um pássaro preto que pousa no cimo dos teus cabelos. Nada escapa, pois ainda que parada, não cesso de te contemplar. Inutilmente. Nada a estranhar nisso. São sempre inúteis os punhados de terra que te atiro.


Se substituirmos “muro” por espantalho, continua a fazer sentido?

A Dorothy que decida.


2 comentários:

Ricardo Cruz disse...

Este presente comentário serve simplesmente para confirmar que a autora deste blog, Joana Trustinha, está a receber os comentários correctamente.

Joana disse...

Confirmado :)